Enquanto nos arremetemos com veemência contra o aquecimento global, pasmamos com as notícias que nos dão conta das bruscas mudanças climáticas, enquanto nos revoltamos contra a sociedade do desperdício, bradamos aquidelreis pelo paulatino desaparecimento da floresta amazónica, proclamando, em paralelo, hossanas e bem–aventuranças ao protocolo Kioto, agarrando-nos dessa forma àquilo que pensamos ser a última esperança para que esta bola enorme, que é o nosso mundo, não estoure de vez e entretendo–nos a fazer aquilo que está ao alcance das nossas mãos – pilhas no pilhão, vidros no vidrão –, para ficarmos de bem com as nossas consciência, a Terra arde, a água esvai–se, o verde desaparece e com eles o oxigénio que nos dá vida.
A Grécia consome-se diante dos olhos da nossa impotência: nos dois primeiros dias foram 63 pessoas que pereceram, 180 mil hectares devorados pelas chamas, centenas, se não milhares de pessoas na mais exasperante ruína, com os seus haveres destruídos.
Se é fogo posto, se são causas naturais ou se é um misto de cada coisa, são questões neste momento pouco relevantes para uma imensa tragédia que, tocando agora aos gregos, amanhã a nós, aos americanos, aos espanhóis, australianos ou a quem quer que seja, necessita de sérias e urgentes reflexões a nível global para que se evite que um dia destes, ao acordarmos, só restem cinzas.