— Por favor, minha senhora, queria comprar um ramo de flores.
— Alguma ocasião especial?
— Anos! Anos de minha mulher!
— Tem preferências?
— Vistoso! Assim uma coisa colorida!
— Rosas vermelhas?
— Não estará já muito visto?
— Talvez… E rosa porcelana?
— Para isso ia a uma loja da Vista Alegre, não acha?
— Peço desculpa mas não me fiz entender!… Rosa porcelana é uma flor lindíssima, originária de São Tomé e Príncipe, que parece que é mesmo de porcelana…
— Desculpe-me, mas confesso-lhe a minha ignorância em matéria de flores. Posso ver?
— Claro! Tem ali aquelas, em tons vermelho e laranja…
— Nunca fui muito dado ao laranja, sabe. Vou mais nos vermelhos.
— É exactamente como eu, o senhor. O sangue a pulsar, o fogo a arder, a chama em permanente crepitar… enfim…
— Essas suas palavras fizeram-me lembrar a minha adolescência, em que sentia toda essa exaltação, de forma tão compulsivamente arrebatadora.
— Não me diga que já não é assim? Tão novo ainda…
— Não tanto quanto isso! Vou fazer quarenta e três…
— Em Setembro?
— Não, não! Em Outubro.
— E eu faço quarenta e um. A quatro.
— De Outubro?
— Não, agora em Setembro.
— Mas isso é já para a semana… E ninguém diria que a senhora…
— Camélia… sou Camélia.
— Até que era uma belíssima ideia…
— O quê, desculpe?…
— Levar camélias.
— Que pena, não temos, sabe! É raro aparecerem.
— Não faz mal, levo só uma.
— Não estou a perceber…
— Levo só uma!
— Uma, como?
— A si! Levo-a a si!… Ou nega-me esse prazer?
— Não será irmos depressa de mais. Do género precipitado?…
— Precipitado, como?
— Sei lá, tudo tão rápido… assim, tão de repente…
— As melhores coisas desta vida são assim, vapt… de repente!
— É capaz de ter razão, sim senhor… mas então só se for às sete, que é quando eu saio.
— Óptimo. Às sete, então!
— E as flores para a sua mulher?
— Quais flores? Qual mulher?
— A sua! Os anos, lembra-se?
— Ah claro!… Mas isso qualquer torradeira eléctrica serve. Tanto mais, que ela já me anda a pedir uma há mais de seis meses.
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