
No início da década de 30, disse Federico Garcia Lorca de Pablo Neruda, quando este exercia o cargo de cônsul do seu país em Espanha: «Um poeta mais próximo da morte que da filosofia; mais próximo da dor que da inteligência; mais próximo do sangue que da tinta».
Em 1971, na altura em que recebeu o Nobel da Literatura, Neruda disse de si próprio: «Provenho de uma província perdida, de um país separado de todos os outros por uma geografia impiedosa. Fui o mais abandonado dos poetas e a minha poesia foi provinciana, dolorida e chuvosa. Mas tive sempre confiança no homem. Nunca perdi a esperança. Por isso talvez tenha chegado até aqui com a minha poesia, e também com a minha bandeira».
No livro «Oda a la Bella Desnuda» - por curiosidade comprado na casa de Valparaíso onde o poeta viveu – extraí o poema «El Tigre», sobre o qual Ana Garralón escreve como introdução: «El Tigre é um dos mais belos poemas de amor de Pablo Neruda. Tem uma força, sensualidade e ritmo que deixam o leitor sem alento. Assim como este breve e intenso poema, concebido em segredo debaixo do calor de uma grande paixão, a extensa obra de Neruda encontra no amor um tema privilegiado».
El Tigre
Soy el tigre.
Te acecho entre las hojas
anchas como lingotes
de mineral mojado.
El río blanco crece
bajo la niebla. Llegas.
Desnuda te sumerges.
Espero.
Entoces en un salto
de fuego, sangre, dientes,
de un zarpazo derribo
tu pecho, tus caderas.
Bebo tu sangre, rompo
tus miembros uno a uno.
Y me quedo velando
por años en la selva
tus huesos, tu ceniza,
inmóvil, lejos
del ódio y de la cólera,
desarmado en tu muerte,
cruzado por las lianas,
inmóvil en la lluvia,
centinela implacable
de mi amor asesino.